quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Quo vadis Educação?



Nº 564 • 19 de Setembro de 2012
Editorial: Quo vadis Educação?
Hoje é facto assente entre estudiosos, educadores e actores no desenvolvimento de políticas de educação que a falta de qualidade do ensino em Cabo Verde resulta de enormes ineficiências no sector. Falhas sistemáticas do lado da oferta, designadamente no que toca à orientação geral, currículos, nível de professores, estruturas de suporte e gestão das escolas, são negativamente potenciadas do lado da procura com o desinteresse dos alunos, o fraco envolvimento dos pais e ausência de uma cultura meritocrática na sociedade em geral. Os baixos índices de Cabo Verde no domínio da educação, investigação e inovação, constantes do relatório do Forum Económico Mundial, deixam transparecer precisamente isso. Nesta fase da globalização o que conta para o crescimento e desenvolvimento de qualquer país é a produtividade, a eficiência económica e a competitividade. Para países como Cabo Verde, que não podem socorrer-se de recursos naturais valiosos facilmente comercializáveis para financiar o desenvolvimento, a aposta primeira deve ser na educação. É nela e no conhecimento que pode propiciar que toda a sociedade e a economia encontrará a base onde se apoiar para produzir mais, diminuir desperdícios e inovar nos produtos e processos. Mas a aposta para ser ganha deve ser assumida por todos. Aos governantes cabe apontar o caminho e construir a vontade colectiva necessária para a realização desse desígnio nacional central ao futuro do país. Hoje é facto assente a importância crucial que a educação teve e tem no sucesso de economias insulares como as Maurícias, Singapura, Taiwan e Hong Kong. O nível dos seus estudantes em matérias como matemática, ciências e línguas é dos melhores do mundo. Em Cabo Verde não se sente realmente que a qualidade da educação é a grande prioridade do país. Está-se mirando ainda no processo da massificação, primeiro do ensino básico, recentemente do ensino secundário e agora do ensino universitário. Todos os anos sucedem-se cerimónias no início das aulas em que os governantes se congratulam pelo facto dos milhares de alunos, em todos os níveis, terem professores e salas de aula em número suficiente para o sistema funcionar. Faz-se referência à qualidade num discurso que se supõe ser de circunstância porque, chegado ao fim do ano, não há qualquer discussão pública dos resultados obtidos na elevação do nível do ensino. Entretanto persiste a percepção geral de que os alunos pioram, ano após ano. A atitude perante a educação e a sua qualidade é a mesma que se verifica em relação a outras questões cruciais para o país. Varrem-se os problemas para debaixo do tapete e espera-se que se resolvam por si ou que algum dia sejam confrontados por outros. Foi assim com a droga, a posse de armas de fogo, a imigração clandestina, o fenómeno dos gangs e a chamada pequena criminalidade. Depois há o espanto geral quando aparecem porque não se pode mais escondê-los. Aí fica patente a fraqueza das instituições para as enfrentar. E não ajuda o facto de o governo entrar num esquema de negar a gravidade da situação, passar as culpas a outros e imputar a todos a responsabilidade por eventuais maus resultados na procura de solução. Cabo Verde neste momento está numa encruzilhada. Perde as vantagens do estatuto de país menos desenvolvido, depara-se com uma crise mundial com consequências terríveis sobre os parceiros mais próximos e não se mostra suficientemente atractivo para o capital directo estrangeiro. A situação macroeconómica é preocupante, há cada vez maior dependência do turismo e o sector privado nacional não tem o protagonismo desejado. A falta de visão estratégica retirou coerência a muitas medidas de políticas, suportou falsas prioridade e impediu que oportunidades fossem reconhecidas e aproveitadas. Há que sacudir a modorra que parece assolar a sociedade à medida que valores outros que não o mérito, a recompensa pelo esforço realizado e a criatividade se entrincheiram. Sem estímulos positivos e regras claras não há como focalizar a energia de todos em objectivos e metas que conduzam a prosperidade geral. A educação devia ser um sector onde as maiores virtudes deviam ser incentivadas e os melhores princípios respeitados e praticados. O sucesso de muitos, ontem e hoje, prova isso.

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