quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Investir no desporto




 Editorial Nº 568 • 17 de Outubro de 2012

Investir no desporto
A qualificação da Selecção de Cabo Verde para o CAN 2013 encheu de entusiasmo os cabo-verdianos. Não é caso para menos. Nem todos os dias um pequeno país de 500 mil habitantes consegue pôr-se à frente de países muito maiores em proeza atlética e desportiva. O sentimento forte de união e de propósito manifestado nestes e nou­tros momentos de sucesso e excelência devia ser tomado como um convite para os repetir com maior frequência. O que destoa nestas demonstrações de unidade nacional é o aproveitamento político feito por aqueles que acham que todo o momento é bom para se fazer propaganda.
Em todas as eras a prática do desporto competitivo por­que pressupõe a aceitação de regras aplicáveis a todos, deu dois resultados aparentemente contraditórios: propiciou oportunidades para a exaltação da identidade de grupos e nações e reforçou a consciência da humanidade comum de todos os homens. Guerras não foram eliminadas mas cer­tamente que a progressiva tendência para paz, constatada por vários estudiosos, também deve-se ao aprofundamento da interacção entre as nações no âmbito de competições desportivas. O contributo para a convivência pacífica não fica por aí. Também se nota no impacto que o desporto tem na socialização de jovens e crianças.
A prática do desporto ajuda a absorver princípios e valores como lealdade, honestidade, justiça. Fulcral para o sucesso é ter-se a atitude certa. A tal que incentiva ao esforço e perseverança individuais, que promove o espí­rito de equipa e que distingue quem merece. Não é pois displicente o facto da prática desportiva ser aconselhada à juventude particularmente nos anos críticos da ado­lescência. Aprendem a seguir regras, absorvem valores e encontram nas equipas e clubes uma comunidade que lhes acolhe, que lhes dá conforto e faculta-lhes a possibilidade de valorização e reconhecimento social em jogos locais, nacionais e mesmo internacionais.
Cabo Verde depara-se com um sério problemas entre os seus jovens, particularmente nas zonas urbanas. O nú­mero de organizações que se autoproclamam de thugs é alarmante. Parece que a motivação de muitos jovens para as integrar é a necessidade de se sentirem parte de alguma coisa. É evidente que um esforço dirigido para organizar a prática desportiva poderia canalizar muita energia jovem que por aí ainda à busca de escape, gratificação e respeito e dar-lhe saídas legítimas. Uma política para o desporto nas escolas serviria vários propósitos designadamente na socialização de crianças e jovens, no desenvolvimento de várias modalidades desportivas e na descoberta de talentos. Esses, devidamente enquadrados e treinados, podiam vir a revelar-se profissionais de nível internacional e angariar fama e glória para o país.
No fim-de-semana passado foi a qualificação para o CAN que galvanizou o país. No passado recente foram vitórias significativas no basquetebol e no andebol. Em Junho foi a participação nos Jogos Olímpicos de Londres. A exaltação nacional destes momentos deve conduzir a uma actuação abrangente que ajude o país a identificar as vantagens já existentes e potenciá-las. Vale a pena fazer um investimento sustentado para os que os resultados e o sucesso sejam mais frequentes e permanentes.
A Direcção




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