quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Reeleição: Obama merece e América e o Mundo precisam



Nº 571 • 07 de Novembro de 2012
Editorial: Reeleição: Obama merece e América e o Mundo precisam
Barack Obama foi reeleito presidente dos Estados Unidos da América. Se formos julgar pelo número de jornais e revistas liberais e conservadores, da direito e da esquerda que apoiaram e subscreveram a sua candidatura, nalguns casos relutantemente, pode-se concluir que o mundo suspirou de alívio com a sua eleição. A perspectiva da ter um presidente fortemente condicionado pelas alas mais extremistas do partido republicano não era nada atractiva. Significaria a real possibilidade de a América vir a espelhar as políticas de austeridade da Europa. Com o mundo sofrendo as agruras da crise internacional tais políticas constituiriam um golpe profundo na já frágil recuperação da economia americana e, por arrastamento, na dinâmica global. Difícil seria de prever em 2008, a meio da explosão mundial de entusiasmo que acolheu a eleição de Obama, que quatro anos depois teria de fazer uma corrida eleitoral renhida para voltar a conquistar a confiança dos americanos. Mas aconteceu. Muito já se escreveu ou se disse sobre as razões por que os americanos, e também um pouco por todo o mundo, as esperanças postas no presidente Obama acabaram por esmorecer. Talvez os tempos excessivos vividos onde pontificam a maior crise económica e financeira desde a grande depressão dos anos trinta do século vinte e o envolvimento da América em duas guerras tenham sido desafios tão complexos que não se prestam a reviravoltas espectaculares. Há um sucesso estrondoso na contenção dos efeitos negativos da crise. Mas como salienta Martin Wolf do Financial Times crises financeiras dão lugar a retomas lentas. Olhando para os dados do emprego, a impressão que se fica é que não se está a fazer o suficiente. È esta percepção que é agarrada pelos republicanos para, sem assumirem a sua responsabilidade no eclodir da crise, acusar Obama de ser incapaz de imprimir dinâmica maior à economia americana. Para qualquer observador de fora, parece espantoso que muitos caíssem nesse discurso que pouca ligação tem com os factos. Realmente os factos não mentem. Nos quatro anos da sua presidência, Obama impediu que a grande depressão se repetisse com medidas designadamente de estímulo à economia em mais de 800 bilhões de dólares, de resgate da indústria automobilística, e de recolocação dos bancos em bases mais sustentáveis. Fez aprovar um plano de saúde que integrou mais de 30 milhões de americanos que não tinham qualquer protecção. Terminou a intervenção americana no conflito do Iraque e estabeleceu um plano de retirada das tropas do Afeganistão. O desemprego está abaixo dos 8% e a economia dá sinais claros de retoma. Por isso é que as razões para o fracasso de Obama em mobilizar a opinião pública e que quase lhe custou a presidência encontram-se na sua relutância em passar com necessário vigor a sua mensagem e a alguma inabilidade em fazer sobrepor a sua narrativa à dos republicanos. Obama falhou em situar e em defender as suas políticas, dando-lhes contexto e integrando-as numa narrativa que explicasse os tempos vividos e assacasse a devida responsabilidade aos republicanos pela crise, pelas guerras inúteis e pela enorme perda de prestí- gio e imagem no mundo que herdou da administração anterior. Na América todos puderam presenciar o drama do presidente Obama a confrontar um partido rico, funcionando com um fervor que lembra seitas sectárias e disposto a sacrificar a verdade dos factos para se manter no poder. Ainda bem que acabou bem. Dramas similares são vividos noutros países onde a pressão eleitoralista e ganhos de curtos prazo transformam a governação praticamente em actos de marketing político e relações públicas. Cinismo e hipocrisia imperam e a narrativa do partido no governo é impiedosa e sistematicamente passada. Experiências do género designadamente na Europa têm sido terminadas por eleitorado subitamente conscientes de que o futuro estava a ser comprometido. A vitória de Obama vai trazer esperança que, não obstante a desproporção dos meios, a desonestidade e a fúria messiânica, a verdade acabará por triunfar. E que o sonho de uma sociedade inclusiva, que a todos dê oportunidade de sucesso e amparo aos vulneráveis, é realmente possível.

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