A frequência de actos criminosos e a natureza e brutalidade de crimes cometidos no país e em particular na cidade da Praia continuam a preocupar seriamente os cabo-verdianos. Relatos de assaltos, vários com arma de fogo, são cada vez mais alarmantes, porque se verificam em plena luz do dia e em lugares com ampla circulação de pessoas. Dificilmente passa-se um fim-de-semana sem o registo de um caso de homicídio. A percepção de que muitos dos crimes cometidos, sejam os de assalto como os de morte em ajustes de contas, estão associados ao consumo e tráfico de drogas não deixa ninguém sossegado. Todos sabem como noutras paragens situações similares evoluíram para pior porque não encaradas a tempo e combatidas de forma decisiva e efectiva.
A polícia continua a esforçar-se por passar a mensagem de que a criminalidade está a baixar. A última iniciativa foi a 27 de Julho em que dados de diminuição de ocorrências nas diferentes ilhas foram apresentados conjuntamente com um estudo da Afrosondagem que aponta para uma maior confiança e satisfação da população em relação ao trabalho da polícia. Constata-se porém que esse sentimento das pessoas não tende a perdurar por muito tempo. Desaparece rapidamente com o aparecimento de novos casos de crimes, alguns bastante chocantes. De novo volta o cepticismo e a impressão geral é que a situação criminal no país não está a melhorar.
A lei de uso e porte de armas já está em vigor, mas ainda não se conhecem as medidas que vão ser tomadas para limpar o país das armas que estão ilegalmente nas mãos das pessoas. Os assaltos à mão armada aumentam e casos de disparos contra pessoas e de mortes a tiro são cada vez mais frequentes. Também a apresentação, na segunda-feira, dia 2 de Setembro, ao tribunal de um grupo de nove pessoas que alegadamente se dedicavam a crimes variados como extorsão, sequestros e assassinatos a mando, não é de tranquilizar ninguém. Pressente-se aí a existência de uma economia subterrânea que recorre a métodos violentos de intimidação e punição para se fazer valer e florir.
Perante isso não se pode assobiar para o lado e esperar que a “maré” passe ou fique confinado a certos espaços. Os cidadãos esperam do governo medidas enérgicas e atempadas para que o mal não se espalhe e corrompa a sociedade no seu todo.
Lideranças equívocas
O destino das nações depende muito das lideranças que tiveram em momentos críticos da sua história. Países como Singapura, Maurícias e Botswana arrancaram no pós-independência com basicamente o mesmo rendimento per capita de muitos países africanos da África subsaariana. Hoje exibem uma prosperidade e desenvolvimento de país desenvolvido ou médio alto enquanto os outros quedam-se ainda entre o grupo de países menos desenvolvidos.
Compreende-se a diferença de percurso pela qualidade e visão da liderança. Botswana, apesar dos diamantes, não se deixou apanhar pela maldição dos recursos naturais e transformar-se numa cleptocracia. Optou pela democracia e pelo estado de direito e o desenvolvimento aconteceu com a dinâmica vinda do sector privado. Singapura e Maurícias fizeram da diversidade étnica e linguística factores propiciadores do desenvolvimento num meio institucional envolvente que, por ser regulado por lei, transmitia confiança, era previsível e promovia a meritocracia.
Muitos outros países apanhados por regimes de partidos únicos optaram por usar a ajuda externa e em alguns casos o petróleo e outras riquezas naturais para controlar a população e perpetuarem-se no poder. Em vez de uma liderança libertadora forneciam uma liderança opressiva que esvaziava o país da sua energia criativa, privilegiava a cultura da vitimização e desincentivava a iniciativa privada e o espírito de cooperação cívica e económica essencial ao desenvolvimento.
Cabo Verde nos seus 38 anos de independência perdeu demasiado tempo devido a lideranças que claramente não tinham o desenvolvimento como objectivo primeiro e central. Questões de Poder sobrepunham-se. Só assim é que se explica o atraso significativo do arquipélago quando comparado com outras realidades insulares.
O país precisa de lideranças libertadoras e visionárias. Certamente que quando se procura formar novos líderes a invocação da governação dos primeiros quinze anos só pode ser pela negativa. É o exemplo a não seguir mesmo que agora se esforça por dourar a pílula com milhões vindos do exterior.
Editorial do jornal Expresso das Ilhas de 4 de Setembro de 2013
A polícia continua a esforçar-se por passar a mensagem de que a criminalidade está a baixar. A última iniciativa foi a 27 de Julho em que dados de diminuição de ocorrências nas diferentes ilhas foram apresentados conjuntamente com um estudo da Afrosondagem que aponta para uma maior confiança e satisfação da população em relação ao trabalho da polícia. Constata-se porém que esse sentimento das pessoas não tende a perdurar por muito tempo. Desaparece rapidamente com o aparecimento de novos casos de crimes, alguns bastante chocantes. De novo volta o cepticismo e a impressão geral é que a situação criminal no país não está a melhorar.
A lei de uso e porte de armas já está em vigor, mas ainda não se conhecem as medidas que vão ser tomadas para limpar o país das armas que estão ilegalmente nas mãos das pessoas. Os assaltos à mão armada aumentam e casos de disparos contra pessoas e de mortes a tiro são cada vez mais frequentes. Também a apresentação, na segunda-feira, dia 2 de Setembro, ao tribunal de um grupo de nove pessoas que alegadamente se dedicavam a crimes variados como extorsão, sequestros e assassinatos a mando, não é de tranquilizar ninguém. Pressente-se aí a existência de uma economia subterrânea que recorre a métodos violentos de intimidação e punição para se fazer valer e florir.
Perante isso não se pode assobiar para o lado e esperar que a “maré” passe ou fique confinado a certos espaços. Os cidadãos esperam do governo medidas enérgicas e atempadas para que o mal não se espalhe e corrompa a sociedade no seu todo.
Lideranças equívocas
O destino das nações depende muito das lideranças que tiveram em momentos críticos da sua história. Países como Singapura, Maurícias e Botswana arrancaram no pós-independência com basicamente o mesmo rendimento per capita de muitos países africanos da África subsaariana. Hoje exibem uma prosperidade e desenvolvimento de país desenvolvido ou médio alto enquanto os outros quedam-se ainda entre o grupo de países menos desenvolvidos.
Compreende-se a diferença de percurso pela qualidade e visão da liderança. Botswana, apesar dos diamantes, não se deixou apanhar pela maldição dos recursos naturais e transformar-se numa cleptocracia. Optou pela democracia e pelo estado de direito e o desenvolvimento aconteceu com a dinâmica vinda do sector privado. Singapura e Maurícias fizeram da diversidade étnica e linguística factores propiciadores do desenvolvimento num meio institucional envolvente que, por ser regulado por lei, transmitia confiança, era previsível e promovia a meritocracia.
Muitos outros países apanhados por regimes de partidos únicos optaram por usar a ajuda externa e em alguns casos o petróleo e outras riquezas naturais para controlar a população e perpetuarem-se no poder. Em vez de uma liderança libertadora forneciam uma liderança opressiva que esvaziava o país da sua energia criativa, privilegiava a cultura da vitimização e desincentivava a iniciativa privada e o espírito de cooperação cívica e económica essencial ao desenvolvimento.
Cabo Verde nos seus 38 anos de independência perdeu demasiado tempo devido a lideranças que claramente não tinham o desenvolvimento como objectivo primeiro e central. Questões de Poder sobrepunham-se. Só assim é que se explica o atraso significativo do arquipélago quando comparado com outras realidades insulares.
O país precisa de lideranças libertadoras e visionárias. Certamente que quando se procura formar novos líderes a invocação da governação dos primeiros quinze anos só pode ser pela negativa. É o exemplo a não seguir mesmo que agora se esforça por dourar a pílula com milhões vindos do exterior.
Editorial do jornal Expresso das Ilhas de 4 de Setembro de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário