Os últimos ataques em Jacarta e Ouagadougou vieram confirmar,
mais uma vez, esse fenómeno novo do terrorismo global que ameaça os Estados e
amedronta as populações em todos os continentes. Aconteceu na Europa, e em
particular na França, mas também nos Estados Unidos da América. Terroristas reclamando
pertencer ao estado islâmico (ISIS) assassinaram indiscriminadamente dezenas de
pessoas e lançaram o pânico geral. No Médio Oriente os ataques são quase
diários e alimentam-se das lutas religiosas que dividem os muçulmanos xiitas
dos sunitas. Recentemente, a atacada foi a Turquia com uma explosão no centro
da grande cidade de Istanbul. Antes tinha sido o Egipto. Um avião russo
explodiu e o ISIS reclamou responsabilidade. Ninguém parece estar a salvo
desses ataques potencialmente devastadores e destruidores da vida humana.
Um palco privilegiado para propagação desse fenómeno é o
continente africano. Para além da luta tenebrosa do Boko Haram, na Nigéria, vários
anos ataques violentíssimos já aconteceram no Quénia. Mais a norte, na Líbia, desde
o colapso de Kadhafi que o país se tornou num ponto fulcral de desestabilização
da região do Sara. O terrorismo no Mali, em particular, tem sido alimentado pela
falta de autoridade que se implantou nessa região e que ameaça derramar-se por
outros pontos na Africa Ocidental como já veio a acontecer no Burkina Faso.
Conflitos entre os muçulmanos e entre estes e a população
cristã favorecem a implantação de seitas e o aumento do sectarismo político e
religioso. Por outro lado, a pobreza extrema em que muitos se encontram tende a
encontrar algum alívio em formas de protecção social que tem fundos vindos de
fontes ultraconservadoras. Por causa disso muitas vezes transformam-se em viveiros
de terroristas que depois vão ser operativos noutros países. A ameaça do
terrorismo global põe todos de sobreaviso, aumenta a tensão entre as pessoas e
tem o potencial de discriminação com base em elementos identitários de natureza
racial, etno linguística e religioso. Ninguém consegue enfrenta-la sozinho. A
cooperação em matéria de segurança com outros países é imprescindível nesta
matéria.
Em Novembro último, Cabo Verde foi convidado pelo Governo
dos Estados Unidos a ser um dos “anchor state” nesta parte da região,
juntando-se ao Senegal, ao Gana e à Nigéria. Também com a União Europeia e o
Brasil há cooperação conhecida em matéria de segurança e certamente coordenação
em matéria de controlo dos diferentes tráficos ilegais de droga, pessoas e capitais
nesta região do Atlântico Médio. Um esforço interno de melhor estruturação das
forças ligadas a segurança e de melhor coordenação das suas actividades deve
ser feito não só numa perspectiva de defesa e segurança do país como também
para um melhor aproveitamento das possibilidades da cooperação internacional.
Nestes momentos eleitorais, em que a possibilidade de
mudança de governo se coloca mais evidente, mostra a necessidade de ao longo de
uma legislatura se manter contactos periódicos e formais com a oposição em
matérias chave de segurança do país. Consensos devem ser criados em questões
fundamentais como a estruturação das forças e organizações engajadas em manter
a ordem e a segurança no país, de forma a dar-lhes estabilidade e a mante-las motivadas.
Alguma convergência básica nessas matérias também asseguraria, sem grandes
percalços, a cooperação internacional, vital nestes tempos perigosos,
designadamente os que podiam resultar da entrada em funções de um novo governo.
De evitar de todo é a tentação de fazer política
eleitoralista com questões de segurança. Não deve haver qualquer dúvida do
engajamento de todas as forças políticas na luta contra as ameaças à segurança
do país e à tranquilidade e bem-estar das populações. Isso deve ficar claro também
para a comunidade internacional que coopera com Cabo Verde em matéria de
segurança. Nestes tempos perigosos deve haver convergência de interesses em
manter uma frente unida que garanta o ambiente de paz e tranquilidade necessário
para que o exercício de escolha de governo para os próximos cinco anos se faça
de forma justa e livre.
Editorial do jornal Expresso das Ilhas de 19 de Janeiro de 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário