O FMI esteve cá e deixou recomendações bem precisas particularmente em relação à divida externa que já ultrapassa um bilião de dólares. O FMI acha que a dívida deve ficar abaixo de 50% do PIB e não em valores de 62% como está projectado para 2012. Isso porque o serviço da dívida (juros mais capital) actualmente em mais de 70 milhões de dólares e tende a aumentar e a constituir-se, a médio prazo, num factor importante de erosão das reservas externas. Cabo Verde é um país com um défice estrutural grave. A pequenez e a fragilidade da estrutura produtiva fazem com que as exportações não consigam pagar as importações. Os recursos para preencher a diferença vêm das remessas dos emigrantes, donativos, empréstimos e investimento directo estrangeiro, fluxos esses que, em grande parte, têm origem na Europa. Estando os parceiros europeus numa situação financeira crítica, e com possibilidades sérias de entrarem em recessão, o mais natural era que os governantes caboverdianos tomasem a sério as nuvens negras que pairam no horizonte. Nos últimos anos, o capital estrangeiro sofreu uma caída brusca, as remessas tendem a diminuir com a perda de rendimentos dos emigrantes e as transferências externas sentem o efeito dos cortes violentos nos orçamentos dos países parceiros. Seriedade porém não tem sido a atitude de muitos governantes por esse mundo fora antes dos efeitos da crise lhes ter batido à porta. Para o dr. Pacheco Pereira, num artigo do jornal Público do dia 4 de Dezembro, nos anos anteriores ao não reconhecimento da crise prevaleu um discurso político “demagogo, mentiroso, enganador e vendedor de ilusões”. E, isso, acrescenta ele, é um risco para a democracia. Autismo e arrogância normalmente acompanham esse tipo de discurso. Em Cabo Verde, ignoram-se as críticas, desprezam-se os avisos e subestimam-se propostas. Diz-se, por exemplo, que as preocupações da oposição com as dificuldades reais das pessoas, das empresas e do país não são de levar em conta. A mensagem não tem valor porque o mensageiro perdeu credibilidade há mais de dez anos atrás. Os alertas do Banco Central de Cabo Verde são desconsiderados com reacções da ministra das Finanças a dizer que “não pretendam ensinar a missa ao padre”. Os recados do FMI caem em saco roto, porque a ministra trata logo de os diluir, afirmando que o Governo prescientemente, há mais de dois anos, está a implementar o que está nas recomendações. Completamente passada de lado é a realidade da deterioração significativa das reservas apontadas pelo FMI, sem que o Governo apresente soluções para tapar o buraco estrutural do país. O euro fraqueja e a Europa parece ter-se resignado com os largos anos de crescimento mínimo se não de recessão, mas em Cabo Verde tudo parece calmo como se pudesse “tocar harpa enquanto Roma arde”.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
A ministra, o bcv e o fmi
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