quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Investir na saúde



A problemática da saúde em Cabo Verde veio à baila nos últimos dias com denúncias de alegadas mortes de 15 crianças na pediatria do Hospital da Praia, com a revelação de números preocupantes de bebés prematuros e com a campanha nacional de luta contra o sarampo e a rubéola. O público, as autoridades e os media prestaram mais atenção às sobrecargas nos serviços de saúde em geral e aos efeitos evidentes na qualidade dos cuidados prestados que provocam. Uma situação que tende a piorar com o abrandamento do crescimento económico, o emprego persistente e a expansão das bolsas de pobreza. 2015 está aí às portas, mas o país ainda tem um caminho significativo a percorrer no combate à mortalidade materna e infantil para poder atingir os Objectivos do Milénio. Particularmente preocupante é a mortalidade neonatal o que evidencia dificuldades no seguimento e na educação das grávidas. O problema é que Cabo Verde sem ainda resolver os problemas típicos dos países em desenvolvimento já tem que lidar com doenças crónicas de uma população que apresenta uma esperança de vida próxima dos países desenvolvidos. Os custos em crescendo que tais desafios compósitos acarretam, obrigam a que o governo desenvolva uma estratégia que permita visualizar um futuro em que as populações poderão contar com cuidados de saúde de qualidade e sustentáveis. Recentemente um responsável da OMS relembrou que Cabo Verde tem bons resultados de saúde mas só quando comparados com outros países africanos. Se se considerar que esses países têm climas mais propícios a doenças, que se situam em zonas onde há endemias diversas, que estão sujeitas a epidemias que facilmente atravessam fronteira e o esforço de educação para saúde confronta barreiras linguísticas religiosas e culturais mais complicadas, vê-se que não há muitas razões para se vangloriar dos índices actuais. Aliás, a comparação deve ser feita é com os países desenvolvidos. E não é por mania. Para que Cabo Verde aproveite da sua proximidade da Europa para aumentar o fluxo turístico em direcção às ilhas tem que dar garantias aos turistas no que toca à saúde pública e à qualidade dos cuidados médicos que pode prestar em situações de emergência. Investir na eliminação de mosquitos nas ilhas, designadamente na Boa Vista e na ilha do Sal, controlar as fronteiras para evitar surtos epidémicos e cuidar da salubridade do meio são objectivos estratégicos para se manter o país atractivo para o turismo e para o investimento externo. No mesmo sentido vão os investimentos em hospitais, centros de saúde e na formação em várias áreas especializadas de quadro nacionais guiando-se por padrões europeus. Ao procurar satisfazer uma procura exterior exigente cuja captação traz benefícios diversos à economia nacional criam-se condições de, com sustentabilidade, se propiciar aos caboverdianos cuidados de saúde no nível adequado. Pelos recursos que crescentemente absorve, a saúde é na actualidade um dos sectores com maior impacto nas economias nacionais. Na Europa o envelhecimento da população fez disparar os custos e ameaça a solvabilidade dos estados. Na América o alargamento dos serviços de saúde para milhões de pessoas mais vulneráveis no chamado Obamacare está no epicentro da actual crise governativa. Para manter a competitividade e conter défices orçamentais, pessoas individualmente, instituições e países terão que procurar limitar os custos na saúde. Com isso abrem-se oportunidades múltiplas que podem ser aproveitadas. Já há países que se posicionaram para prestar tratamentos médicos sofisticados a custos mais baixos. Cabo Verde também deveria considerar as suas opções e apostar em prestar serviços num sector com um potencial enorme de crescimento a prazo. A proximidade da Europa e os fluxos turísticos significativos já existentes convidam a explorar essa possibilidade. Além de proventos directos que poderia angariar, colocaria o país na posição de melhorar consideravelmente os serviços de saúde que presta à população.


Editorial do jornal Expresso das Ilhas de 17 de Outubro de 2013

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