quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Avisos subtis


Nas dificuldades do país foi ontem colocado mais um paninho quente. Cortesia de uma missão do FMI. Era evidente a satisfação dos governantes. Ninguém os viu ou ouviu quando o foco de atenção eram os índices detalhados da competitividade de Cabo Verde, constantes do relatório do Fórum Económico Mundial. Mas tratando-se de declarações genéricas sobre níveis de confiança, importações e receitas fiscais como indicadores de crescimento apareceram logo a facturar. Os caboverdianos gostariam de saber se esse crescimento está ser induzido por maior fluxo de capital directo estrangeiro, se já é visível o crowding in de capitais privados seguindo os investimentos públicos, se há uma dinâmica de criação de emprego e se as exportações ganharam uma nova dinâmica. A missão do FMI parece concordar com a ideia de se estimular a economia com empréstimos concessionais. Não põe, porém, a sua mão no fogo pelas opções feitas pelo governo na aplicação desses créditos. Vai avisando que o “maior desafio nos próximos anos é executar com eficiência os investimentos públicos enquanto se preserva a sustentabilidade da dívida”. Mas eficiência é precisamente o que o relatório referido aponta como o ponto fraco da competitividade de Cabo Verde. De qualquer forma ninguém se lembra do FMI a avisar a Grécia e os outros países PIGS do que poderia resultar do estímulo fiscal que davam às suas economias. Falta de transparência nuns casos e outros problemas resultaram na terrível situação vivida actualmente. Quem lhes fez ver isso, muito provavelmente, não o foi o FMI mas sim o mercado: os que lêem o relatório da competitividade.

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