sábado, 12 de março de 2011

Paroquialismos

Os dados da Afrosondagem vindos a público na sexta feira, dia 4 de Março, chamam a atenção para um aspecto e preocupante. O carácter marcadamente local das intenções de voto nos candidatos presidenciais. Atingem valores elevados de preferência nas ilhas ou regiões de origem. O facto seria normal ou inevitável se de eleições autárquicas e mesmo legislativas se tratasse. Mas são eleições para o cargo de “presidente de todos os caboverdianos”. Há que perguntar o que poderá estar a alimentar perspectivas tão estreitas dos cidadãos. A questão da origem de candidatos a posições cimeiras do Estado tem vindo paulatinamente a público. Primeiro de forma velada e cada vez de forma mais directa. Os partidos têm resistido mais ou menos a isso na composição dos seus órgãos. Mas a pressão existe e não é ignorada. Por alguns é utilizada para dissuadir colegas de perseguir certas posições. Para outros é uma forma de forçar avanços na carreira porque se dizem representativos da “ilha maior”. O Engenheiro Manuel Inocêncio, segundo ele próprio, foi confrontado com questões acerca da viabilidade da sua candidatura por ser originário de S.Vicente. Agora parece que as sondagens vêm confirmar as preferências fortemente regionais. O Dr. David Hoffer Almada tem a preferência de Santiago Norte, o Eng. Inocêncio é forte em S.Vicente e o Dr Aristides Lima na Boavista e no Fogo. Estas tendências contrariam o que foi normal noutras eleições presidenciais, a começar pela primeira eleição em 1991 em que a questão da origem do candidato nunca se colocou. Como aliás nunca se põe nas democracias com consciência profunda da nação. Em Cabo Verde também não devia ser um problema. Muito antes da independência, já existia a ideia do caboverdiano e da caboverdianade, não obstante as especificidades reconhecidas das ilhas. Não havia à partida razões para tensões entre as ilhas. Muito menos que disputas procurassem expressão política no acesso privilegiado a lugares cimeiros do Estado. O desagregar de uma certa noção da unidade da nação poderá ser efeito do esforço de centralização em curso no país. Centralização provoca desigualdade entre as ilhas tanto na repartição de recursos como na criação de oportunidades. Em consequência, desertifica em termos humanos umas ilhas em favor de outras. Provoca sentimentos de abandono que são aproveitados em discursos populistas que reforçam a perspectiva local e perpetuam a frustração. Em contrapartida, onde o Poder reside a arrogância cresce e faz-se ouvir. O resultado é o enfraquecimento da ideia da nação com o aparecimento de tendências hegemónicas e a perda da diversidade que sempre caracterizou a caboverdianidade seja na índole das suas gentes seja ainda, na língua, na música e nos costumes.

4 comentários:

  1. Pois é, a concetração do MPD é contra o seu adversário PAICV, em vez de andarem por aí a atacar Juizes Conselheiros. O MPD mostra forte com os fracos (Magistrados que não podem responder!) e fraco com os fortes (PAICV)

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  2. Bem, é tempo de dizer basta, Humberto! Basta, porqsue primeiro armas-te em liberal e democrata mas depois censuras os meus pontos de vistas. Sim, trato-te agora por tu porque fomos colegas dos Salesianos, e apesar de te ter feito elogios, porque também é verdade, mas é tempo de te dizer duas coisas, mesmo que nao publiques.

    Meu caro tu foste um aluno brilhante nos salesianos mas eu também; e tenho uma vantagem sobre ti: nao sou gago como tu e sou tao bom como tu em letras e linguas (alias falo mais linguas do que tu) e em matematica.

    Isto para te dizer que é tempo de parares com essas criticas balofas, pois tu nao és consequente; primeiro porque me censuras, mas depois as minhas ideias sao aproveitadas por ti para fazeres as tuas analises; e depois porque tu tens culpa nesta tragédia caboverdiana pois nao conseguiste que as tuas ideias fossem maioritarias no MPD.

    SE CV està assim é por causa do PAICV e do MPD. O MPD nao conseguiu elevar-se para ser um verdadeiro partido democrata e liberal.E' um apêndice do PACV com submarinos do regime de partido unico no seu seio.

    Enfim, sobre a caboverdianidade tu sabes perfeitamente que isso é mentira. Fomos educados nos salesianos como portugueses, pelo que este teu paraquialismo de pacotilha nao convence.Em SVicente, crioulo éramos tu e eu e a nossa gente da ilha; os outros, eram gente das ilhas como sendo badius, do fogo, de sniculau etc etc.

    Conclusao: toda a gente sabe que as ilhas sempre foram regionalistas e separatistas e mesmo diria tribalistas. Soncente defendeu sempre gente sanvicentina, Santiago, gente santiaugense etc e por ahi fora....

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  3. Vejo que dois dos meus textos foram publciados.Mas porque é que leva maisd e 10 dias para publicar um texto, caso desse meu post mais abaixo?

    Bem continua a guerra de reunioes de oficinas partidarias sobre as proximas eleiçoes mpelo que deixo aqui mais este post sobre Aristides:
    é temmpo de Zé Maria estudar mais em vez de estar sempre a falar mentira.


    Ele devia saber que essa eleiçao do conselho nacional é inconstitucional, porque o partido nao vota, mas sim o povo nas urnas no dia das eleiçoes em duas voltas, e nao três voltas. Estudem, senhores. Deitem uma olhadela para paises com mais de 200 anos de democracia e com os melhores catedraticos de direito do mundo que ja arbitraram eleiçoes do género. Ha jurisprudência internacional.

    .Avança ja Aristides; Alias tu também nao és constitucionalista para saberes que essa coisa partidaria nao tem valor nenhum? Todos na corrida. Vao buscar Carlos Veiga ja!!!

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  4. Pois é Humberto,
    Há muito tempo caiu a chapa de chumbo sobre Cabo Verde e a luzinha, que era Mindelo, que iluminava o país está preste a apagar, que está-se q transformar progressivamente em mais um banal país africano. Quando se vê o exemplo da capacidade de mobilização da Juventude norte-africana ou da Juventude Arrasca em Portugal com a mega-manifestação (envolvendo 300 mil pessoas em todo o país), dá uma dor ver como é que a ilha do Monte Cara entrou em coma irreversível.
    O Debate sobre a Regionalização está timidamente aflorado aqui, quando já tiveste posições mais corajosas sobre o mesmo, nas análises aos problemas do Mindelo. Regionalização/Descentralização de Cabo Verde seria de certeza uma aposta estruturante para Cabo Verde e seria um evento tão importante como o 25 de Abril ou a Independência. O único povo que pode ainda salvar aquilo que resta de Cabo Verde é do povo mindelense (isto é os seus últimos mohicanos em vias de extinção). Porque é que vocês não aproveitaram a janela de oportunidades lançada generosamente e corajosamente aberta pela diáspora no seu MANIFESTO PARA UM S. VICENTE MELHOR (sobre este assunto é o mutismo total das elites dominantes e dos ditos intelectuais caboverdeanos) aos seus irmãos Mindelenses. È mais uma oportunidade que vocês desperdiçaram, depois do que aconteceu com o Movimento em favor do Éden Park, da discussão em torno do Dr Adriano D. Silva e de outros debates ousados que a diáspora vem-vos servindo na bandeja ou brindadando. Quanto ao Debate sobre a Regionalização, mais uma vez o MPD está ainda preso a preconceitos marxista leninistas e está de mãos dadas com o Paigc, pelo que merece a derrota eleitoral e vai ter mais uma em breve. Já agora quando é que este movimento se transforma em partido?

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