quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Brincar esconde-esconde com a Verdade

A realidade da Crise caiu finalmente sobre os governantes caboverdianos. Mas fugas ao óbvio continuam a ser tentadas. Na entrega da proposta do Orçamento Geral do Estado à Assembleia Nacional, a ministra de Finanças justificou com argumentos morais a necessidade de contenção das despesas: não se pode utilizar o dinheiro dos contribuintes europeus para financiar aumentos salariais dos cabo-verdianos, quando nos países da UE há cortes "drásticos" nos salários. Ou seja, o governo não cumpre a promessa eleitoral do 13º mês, por “solidariedade” com os “contribuintes dos países doadores que transferem toda esta riqueza que é distribuída em Cabo Verde”. Na cerimónia da apresentação do relatório do Doing Business a posição do Sr. Primeiro Ministro é completamente outra: há que tomar 100 medidas de reformas urgentes porque agora é hora de reformas microeconómicas para continuar a garantir os fundamentais do desenvolvimento. Antes parece que os tais “fundamentais” estavam a depender da generosidade de estrangeiros e que o imperativo actual é de se pegar na economia nacional. Grave erro e muito tempo perdido, porque, como é sabido, não há equilíbrios macroeconómicos sustentáveis sem políticas microeconómicas que desemboquem em mais emprego, classe empresarial sólida, maior captação de capital estrangeiro e melhor competitividade externa traduzida em aumentos significativos nas exportações de bens e serviços. Sobre o que deviam ser as prioridades do país, o Governador do Banco de Cabo Verde lamenta no texto publicado por este jornal que “as exigências para a competitividade externa não estão colocadas na agenda e nem foram ainda comunicadas aos caboverdianos”. Resumindo, a grande simulação continua e a verdade continua elusiva. O governo mantém a esperança de poder assegurar transferências externas que tornem desnecessária aplicar-se em desbloquear a economia nacional e lançá-la para níveis mais elevados de crescimento. Quer algum crescimento, mas retrai-se perante a perspectiva de uma sociedade mais dinâmica e mais autónoma.

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