terça-feira, 8 de novembro de 2011

BCV e Governo: cenários desencontrados

O Primeiro Ministro fala em taxa de crescimento para o próximo ano no intervalo 6-7%, enquanto o Banco Central no Relatório de Política Monetária divulgado ontem projecta para 2012 crescimento no intervalo 4-5%. A disparidade das projecções do Governo e do Banco Central tem provavelmente a ver com os dois cenários aventados pelo BCV no referido relatório. Num primeiro cenário, com mais crédito à economia e aumento no financiamento interno ao orçamento do Estado, haverá redução de reservas internacionais em cerca de 15%. No cenário preferido pelo BCV, porque “mais consentâneo com a defesa da credibilidade do regime cambial e da estabilidade macroeconómica” as reservas garantiriam 3 meses de importação, mas à custa da queda no investimento em resultado do abrandamento do ritmo do crédito interno. De acordo ainda com o relatório, neste cenário se o Estado mantiver as suas necessidades de financiamento de acordo com o que está orçamentado, haverá perigo de crowding out do investimento privado. Ou seja, o crédito disponível irá preferencialmente para satisfazer as necessidades do Estado, limitando os privados e prejudicando possivelmente a criação de empregos. Como se vão reconciliar as duas perspectivas é o que se vai ver. O Governador é claro em dizer que ajustes significativos devem ser feitos ao nível do Orçamento do Estado apresentado para 2012 que continua expansionista como os dos anos anteriores. O problema é que, como todos puderam verificar nas eleições presidenciais, muitas despesas do Estado são feitas com propósitos eleitorais. No horizonte de 2012 eleições autárquicas já condicionam as movimentações dos membros do governo e a dispensa de fundos para associações comunitárias, ONGs, programas governamentais para a juventude, cultura, coesão social, etc. Austeridade em tempo de eleições custa mais. Para quem ache que o acordo cambial é um colete-de-forças talvez seja o momento de retomar a discussão proposta pelo então deputado Josefá Barbosa: ponderar se convém a Cabo Verde manter-se num peg unilateral ao euro ou se devia movimentar-se ou para euroização ou então tornar-se mais flexível e ligar-se a um cabaz mais alargado de moedas.

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