A propósito do Fórum realizado em Mindelo, a 4 de Novembro, seria interessante ver na experiência dos outros o que possivelmente poderá estar a faltar para que São Vicente dê certo. Durante séculos muitos pensaram que a China tinha tudo para dar certo: dimensão, população, recursos naturais e ética confucionista. A realidade de algumas décadas atrás era de um país subdesenvolvido com centenas de milhões de pessoas na pobreza extrema. Hoje é a segunda economia do mundo e a crescer à taxa de 10% ao ano. A transformação começou em 1978. Deng Xiao Ping presidiu a uma mudança de atitude que potenciou todas as outras qualidades e recursos da China. Dizendo que “ser rico é glorioso” varreu a inveja, a paralisia e a descrença no mérito que a ideologia igualitária induzia nas pessoas e perpetuava na sociedade. Clamando que não importa que o gato seja branco ou preto e o que interessa é que cace ratos derrubou ideologias sufocadoras da iniciativa individual e da inovação e elegeu o pragmatismo como referência. A China entrou num caminho em que resultados contam para se avaliar da adequação dos meios disponibilizados e para se reconhecer o empenho dos envolvidos e compensá-los devidamente. Infelizmente não é esse o caminho de Cabo Verde. Focaliza-se demasiado em conseguir meios em detrimento de uma avaliação ponderada dos resultados conseguidos. A relação custo-benefício dos empreendimentos não é tida em devida conta. Investe-se na oferta e esquece-se de mobilizar a procura. Vive-se fundamentalmente do fluxo de recursos a partir do exterior (remessas de emigrantes, donativos e empréstimos concessionais) e não do que a economia pode produzir em bens e serviços. Para fazer com que São Vicente acerte e tenha sucesso, como aliás todo o Cabo Verde, é essencial uma mudança profunda de atitude. No Fórum do Mindelo apresentaram-se projectos da imobiliária como se a bolha no sector não implodira, a procura pela segunda residência não se retraíra drasticamente e o crédito barato de anos anteriores estivesse disponível com a mesma facilidade de antes. Mas, como qualquer surfista, o caboverdiano deve saber quando a onda já morreu na praia. E como também deve estar ciente que não pode criar ondas. A hipótese que lhe fica é de preparar-se para a próxima onda, com pragmatismo e sem amarras ideológicas. A hora é de identificar possível procura externa para bens e serviços que a ilha pode realisticamente oferecer. Para um arranque súbito (jump start) um investimento “all inclusive” podia mostrar-se interessante. Os operadores trazem com eles o mercado e a ilha ganharia no fluxo de pessoas e nas várias atracções para além de “sol e praia” que ofereceria aos turistas. A médio prazo, podia estrategicamente preparar-se para um turismo de cuidados de saúde. Afinal a Europa fica a 3, 5, 6 horas de distância, a população está a envelhecer, e cuidar dos mais idosos fica cada vez mais caro. Parece que há aí uma onda potencialmente gigante que merece ser espreitada e talvez cavalgada com sucesso. Tudo depende de nós. De encontrarmos os parceiros certos, reorientarmos a formação profissional e desenvolvermos uma cultura fina de serviço.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Tudo para dar certo
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