Depois de uma semana de consultas a personalidades e entidades, supostamente a procura de consensos para enfrentar a crise, o Primeiro-ministro saiu a “disparar”. Colocou-se logo na posição adversária aqueles “analistas e partidos de oposição que pretendem trazer um plano recessivo para a economia de Cabo Verde”. Aos analistas estaria a juntar o Governador do Banco Central que num texto publicado nos jornais e em entrevista ao Expresso das Ilhas chama a atenção para o óbvio: a economia caboverdiana, vulnerável e dependente da ajuda externa e de remessas de emigrantes, necessariamente será afectada pela quebra de dinâmica dos principais parceiros e pela ameaça de falência financeira que recai sobre alguns deles. Nesse sentido, o BCV no seu relatório semestral de política monetária, aconselha contenção orçamental e aumento da competitividade externa do país. Para o BCV, há que se evitar que o governo, para financiar o défice orçamental, recorra ao crédito interno e em consequência se verifiquem duas coisas: 1- baixa perigosa nas reservas cambiais pondo em perigo o Acordo Cambial com a União Europeia; 2- o sector privado fique prejudicado no acesso ao crédito. O cumprimento do Acordo Cambial é fundamental para a confiança no país. Crédito para investimento privado mostra-se essencial, porque já se sabe que o Estado já atingiu os limites do endividamento público e não pode continuar com os actuais níveis de investimento. Na resposta do PM ao BCV ficou claro a discordância entre o órgão político e a instituição independente mandata pela Constituição para executar autonomamente a política monetária e cambial nos termos de compromissos internacionais a que o Estado de Cabo Verde se vincule. Mas se para o PM não há que seguir o conselho do BCV e fazer reorientação orçamental para minimizar o seu carácter expansionista, para a Ministra de Finanças o governo não precisa que o BCV lhe venha ensinar a dar missa. O Governo irrita-se sempre que algo lhe escapa ao controlo. O Governador não está na mesma situação de há dois anos, em que ficou à espera de renovação do mandato de Agosto de 2009 a Maio de 2010. Despiques do género minam a confiança nas instituições e são sinais de que a aparente disponibilidade em ouvir outros, serve outros objectivos. Para o secretário geral do PAICV, as consultas visavam fundamentalmente obter a compreensão de todos pelo não cumprimento das promessas eleitorais do 13º mês e do salário mínimo. Cinco dias depois desde incidente, o PM, num volte-face, veio anunciar medidas correctivas para as situações referidas no relatório do BCV. Ainda não se sabe como irão afectar a proposta da OGE já entregue ao parlamento e que vai para discussão e aprovação na próxima segunda-feira.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Deselegância inédita
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