sábado, 29 de janeiro de 2011

Maioria absoluta e estabilidade governativa

A questão da bipolarização na política caboverdiana tem sido levantada por várias vezes ao longo dos vinte anos de regime democrático. Alguns críticos do actual sistema ainda não se convenceram das vantagens do confronto democrático. Extrapolam as vantagens do consenso para camuflar as suas preferência se não para o partido único, pelo menos para a existência de um partido solidamente hegemónico. Consideram perda de tempo todo o exercício do contraditório. Para outros criticar bipolarização significa abrir um espaço político no qual pretensões de pequenos partidos em ganhar expressão e dimensão podiam realizar-se. Nos discursos da generalidade dos críticos da bipolarização há um "travo" qualquer que lembra discursos anti-partidos em regimes do tipo salazarista e discursos contra o pluralismo em regimes de partido único. Não se nota a preocupação em compreender as dificuldades de origem da democracia cabo-verdiana e as razões da crispação política que a caracteriza. Com a inauguração da democracia a 13 de Janeiro, Cabo Verde deparou-se com uma situação insólita em que do lado do governo ficou o movimento popular, que derrubou o regime anterior, e, na oposição, o ex-partido único. A construção das instituições democráticas ficou marcada pela ausência de forças políticas na área do Poder francamente comprometidas com a democracia, do tipo PS/PSD em Portugal ou do tipo PP/PS em Espanha, para só citar alguns exemplos. O resultado é que a Nova Constituição não foi votada pela oposição e a mudança nas instituições, e particularmente na administração pública, sujeitou-se a vários percalços. Concomitantemente o processo de reestruturação a partir de uma economia estatizada e autárcica para uma economia de base privada e inserida no mundo foi contestado a passo e passo. A crispação política não desapareceu mesmo com a chegada do ex-partido único ao poder dez anos depois. Querendo ser origem de tudo em Cabo Verde, o PAICV não se reconcilia com o facto dos fundamentos do Cabo Verde moderno ser o legado das profundas transformações no domínio político e económico verificadas nos anos 90. E ataca, ataca sempre. A tensão política existente não resulta da bipolarização em si mesma mas da particularidade da força política que, seja na oposição, seja no governo, nunca se sente tranquila. Talvez porque outras forças existem. E não muda também porque não há pressão social e política que force todos os actores políticos a se regerem pelas regras do jogo democrático. A presença de uma terceira força não ia alterar nada. É só relembrar a violência com que se tem dirigido à UCID sempre esse partido toma uma posição claramente distinta e oposta à sua. A não existência de uma maioria absoluta muito provavelmente iria aumentar a tensão política. Expectativas de eleições antecipadas estariam sempre presentes. A Constituição caboverdiana, diferentemente da Lei Fundamental portuguesa, não deixa muito espaço para governos minoritários. Obriga a aprovação de uma moção de confiança por maioria absoluta dos deputados em efectividade de funçõesno início do mandato do Governo e exige que todas os projectos e propostas de lei seja votados também por maioria absoluta. Em Portugal as leis são aprovadas por maiorias simples e é a rejeição do programa do governo por maioria absoluta que leva a demissão do Governo. Por aí vê-se que a existência de uma maioria absoluta sólida é base fundamental para estabilidade governativa em Cabo Verde. A existência de uma terceira força expressiva provavelmente complicaria o quadro político sem trazer os benefícios de diminuição da crispação política. Muito pelo contrário.

2 comentários:

  1. Mas oh man, isto é um classico, pois o PAIGCV é um partido leninista. E' assim com todos os partidos de cariz comunista e nao ha nada a fazer.

    Alias havia! Mas vocês nao o fizeram em 1991! Se temos esta crispaçao é porque vocês foram cobardes em 91.

    Sabes porquê? Porque tinham o rabo de palha de terem pertencido também ao regime de partido unico, logo foram magnânimos com os ditadores de 1975.

    E' essa a razao! O MPD tem claro e evidente carradas de culpa nessa crispaçao. E' gente que vem de 1974 e em que ainda domina a cena politia caboveridana que é a principal culpada.

    Mas o mal, é que os jovens estao todos a aprender as mas liçoes com essa gente.

    Cabo Verde será uma TRAGEDIA, se o MPD nao ganhar desta vez e nao terminar o trabalho que nao concluiu em 1991!

    Sim, tragédia! Nao por causa tua, pois és dos unicos que percebeu isto ha muito tempo; Mas mesmo assim ainda fazes analise desse tipo, como se tudo ja nao estivesse claro.

    Vocês nao deram conta do recado!

    Al Binda

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  2. Ok Humberto
    Estás a pedir maioria obsoluta para o MPD. Compreendo-te. Numa primeira fase é bom para Cabo Verde ter governo rapidamente independentemente de quem ganhe. isto é o interesse do curto prazo . Poder ser uma faca de dois gumes. Olha, que uma terceira força expressiva pode não complicar. Mas poderá ser aliada da ala democrática do MPD num futuro governo de coalição. Não te esqueças que o MPD é um partido compósito. Há pessoas no teu partido que não são cem por cento clean pliticamenet.
    Há pessoas que neste momento não vêm com boas olhos uma maioria absoluta dos dois partidos.
    Tens que tratar melhor a tua ideia para convencer os independentes, pois o programa do MPD não esclarece em vária questões: democracia, regionalização, quel é o vosso projecto para S. Vicente, novo conceito e modelo de desenvolvimento de Cabo Verde etc. Alguém no MPD que põe em causa o actual modelo político concentracionário como já fez tanta gente inclusivamente partidos. Portanto há um debate profundo a ser feito. Julgo que és a pessoa indicada.

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