segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A violência nas mentiras do Estado

Podia-se estranhar a forma assanhada e violenta como o líder do Paicv e Primeiro Ministro, o Dr. José Maria Neves, caiu sobre o líder do MpD, o Dr. Carlos Veiga, no debate da quinta feira. Mas não. Afinal usa as mesmas armas de que o Pais já se habituou a ver os militantes do Paicv a esgrimir em todos as situações: “Carlos Veiga abandonou o Governo”; “Carlos Veiga é contra o Poder Local porque disse que pedra não joga com garrafa e há filhos de dentro e filhos de fora” etc, etc. Se o debate se prolongasse, mais outras acusações, como o do chamado caso Enacol, iriam ressurgir das trevas. Comum a todas elas é que não correspondem minimamente aos factos. O Tribunal Constitucional, em Acórdão de 4 de Dezembro de 2000, disse peremptoriamente que não houve abandono do governo e que o então Primeiro Ministro, Carlos Veiga, simplesmente cumpriu a lei quando, com o anúncio da sua candidatura a PR, as suas funções foram automaticamente suspensas. Quanto ao Poder Local foi no governo de Carlos Veiga e com a Constituição de 1992 que reapareceram as câmaras após os 15 anos de Partido Único e de hostilidade extrema à autonomia municipal. A questão da ENACOL baseia-se num documento declarado falso pela Procuradoria Geral da República, após exaustivas investigações. O líder do Paicv, e também Primeiro Ministro, ao pegar em mentiras óbvias para atacar opositores mostra o total desrespeito pelas instituições da República e por todos que naquela noite estavam a seguir no dabate. Mas esse é o estilo de propaganda que o PAIGC/PAICV sempre submeteu Cabo Verde. Cria pseudo factos e obriga todos a aceitá-los e a repeti-los apesar das evidências em contrário. As próprias instituições do Estado são instrumentalizadas para encarnarem essas “verdades históricas”. Um exemplo é a comemoração de 44º aniversário das Forças Armadas no dia 15 de Janeiro num país que só tem 35 anos de existência como Estado independente. Coisa similar acontece, por exemplo, na China em que se comemoraram no ano passado os 83 anos do Exercito de Libertação Popular e os 61 anos da República Popular. Mas aí é claro como diz o presidente Hu Jintao “as forças armadas estão sob o comando do partido comunista”. Não são propriamente forças armadas republicanas. Em Cabo Verde, as FARP, forças armadas revolucionárias do povo e braço armado do partido, desapareceram com a Constituição de 1992, para dar lugar às Forças Armadas de Cabo Verde. É dever das FA cuja missão fundamental é a defesa da ordem constitucional não fugir a essa ordem e reportar-se a algo que só serve a vaidade de uns e a pretensões ao Poder fora da constituição. Já é tempo de Cabo Verde sacudir essa forma de fazer política com base em desinformação, meias verdades e inverdades grosseiras. Revela a persistência de uma cultura política nociva, desrespeitosa da nação e atentatória à dignidade das pessoas. Theodore Dalrymple em poucas palavras revelou a essência dessa cultura: No meu estudo das sociedades comunistas, cheguei à conclusão de que o propósito da propaganda comunista não era persuadir, nem convencer, mas humilhar – e, para isso, quanto menos ela correspondesse à realidade, melhor. Quando as pessoas são forçadas a ficar em silêncio enquanto ouvem as mais óbvias mentiras, ou, pior ainda, quando elas próprias são forçadas a repetir as mentiras, elas perdem de uma vez para sempre todo o seu senso de integridade, honestidade e decência. (...) A capacidade de resistência das pessoas é desgastada (...) [E] uma sociedade de mentirosos castrados é fácil de controlar.”

3 comentários:

  1. E o desenlace final das sociedades humilhadas pelo martelar das mentiras e usurpação do poder, é em todo identico ao que se está passando na Tunisia, salvaguardadas algumas particularidades de cada sociedade.

    Felizmente, hoje, os ditadores e mentirosos que levam a situações extremas, vão encontrando mais dificuldades em fugir á última hora para exilios dourados. O Ben Ali, da Tunisia, sabe que não está a salvo da justiça.

    Em Cabo Verde, ainda sentimos o odor fétido da ditadura encrustado em alguns sectores da politica nacional, maquilhado ou disfarçado de várias formas. Esperemos que controlem os impulsos e fujam ás tentações!!!

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  2. Bem dito, os Caboverdianos têm de acordar, o Sr. PM, como é típico dos daquele partido, só sabe mesmo utilizar a violência e a propaganda para tentar intimidar.

    O Sr. CV deu uma lição ao responder na mesma moeda, não desceu ao mesmo nível e manteve a serenidade, um verdadeiro líder.

    É disso que Cabo Verde precisa de um político sério e não de um comediante qualquer.

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  3. A propaganda e contra propaganda têm sido um estratagema sempre presente na acção política do Paicv. Interessa, acima de tudo, imputar aos adversários todo o mal que se possa imaginar antes que eles o façam. Detesto escutar, todas as vez quando anualmente isso acontece, saber que estas Forças Armadas, a que pertenci, são oriundas das FARP´s, ligadas aos milhares de fuzilamentos, sem nenhum julgamento, de ex-militares do exército colonial português. E dói saber que muitos dos seus oficiais superiores, à época, e dirigentes máximos do Paigc eram cabo-verdeanos. Em plena propaganda de necessidade da criação de um Homem Novo. Um dia, em breve, há de se fazer luz sobre esta tenebrosa fase que deu origem ao Estado de Cabo Verde...

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